Educandários

Visibilidade para o que passa despercebido pela distância

Duas escolas estaduais de Pelotas constam no dossiê apresentado pelo Cpers

Carlos Queiroz -

"Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede..."

Os versos de Vinicius de Moraes, trazem ao imaginário uma casa quase impossível de existir. Mas é uma realidade em três escolas estaduais de Pelotas, duas delas apontadas em dossiê apresentado pelo Cpers. Um muro caído que abre barreiras à vulnerabilidade. Chão e teto prestes a desabar. Telhado que permite que chova no interior como chove na rua. A crítica situação da Escola Estadual de Ensino Fundamental (Eeef) Parque do Obelisco e do Colégio Estadual Félix da Cunha foi apresentada a todo o Estado na quinta-feira.

Além do apontamento de problemas estruturais, o documento do sindicato cobra a falta de reajuste salarial há sete anos para os profissionais da Educação e a falta de recursos humanos em unidades espalhadas por 60 cidades gaúchas. "O Estado, além de manter um arrocho salarial - sequer reposição inflacionária nós estamos tendo -, também não tem cuidado da parte estrutural das escolas", reclama o diretor do 24º Núcleo do Cpers, Mauro Amaral. "São várias necessitando com urgência de reparo e a gente tem visto que as escolas têm feito sua parte em encaminhar, mas a questão burocrática tem travado o atendimento dessas necessidades", acrescenta.

Rachaduras e desabamentos

No último dia 27, o Diário Popular retratou a situação da escola Luís Carlos Corrêa da Silva, na Guabiroba, a qual sofre com as inundações causadas pela chuva. Apesar desta não ter entrado no dossiê, o diretor do 24º Núcleo ressalta que a estrutura também enfrenta sérios problemas.

Na sexta-feira, a reportagem esteve nas duas escolas apontadas pelo Cpers em seu relatório. A escola Parque do Obelisco sofre com a vulnerabilidade a arrombamentos e assaltos, que já ocorreram duas vezes, devido à queda do muro nos fundos, em 2019. O pátio e a quadra esportiva não têm separação da via pública. "Agora durante a pandemia, não tem intervalo, mas ano que vem as coisas vão mudar, não vamos poder dar recreio. Como colocar as crianças lá?", questiona o orientador educacional Carlos Montelle, que também cita outros problemas na estrutura que atende 262 alunos. Entre as dificuldades, uma rachadura em três paredes do banheiro do térreo, com acessibilidade para cadeirantes, construído há apenas três anos. Na parte frontal do prédio, também há risco de desabamento, com grave inclinação. "O maior problema que temos é a falta de recursos humanos, recebemos professores novos que estão nos ajudando muito, mas tem que vir mais. No quadro de funcionários também. Temos uma comunidade necessitada em todos os aspectos", lamenta Montelle.

Acesso restrito

Há quatro anos, frequentadores do Colégio Estadual Félix da Cunha têm acesso restrito às dependências da instituição. Grande parte da estrutura da rua Benjamin Constant está interditada, com risco de desabamento. Inclusive a entrada para o prédio, hoje remanejada para a lateral, na rua Almirante Barroso.

Uma funcionária, que não quis se identificar, lamentou o estado do prédio histórico. Quem passa pela calçada do Casarão do Porto, pertencido à família Ribas até 1950, quando doou para o Estado para viabilizar o então Grupo Escolar Félix da Cunha, já nota o abandono e as marcas do tempo. "Essa sala está completamente interditada porque o teto tá assim, uma miséria. E o teto tá todo podre e no chão tem um buraco. Ele é lindo por dentro, vocês não imaginam, os vitrais que tem ali na porta, as peças dentro são amplas, bonitas, mas estão na miséria", disse a servidora.

O que diz o Estado

Em nota, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que no Parque do Obelisco existem três demandas de obras em andamento: a reforma geral, orçada em R$ 146 mil, que está em fase de elaboração de aditivo; a reforma da rede elétrica e da reconstrução do muro, orçada em R$ 190 mil, cujo contrato está análise; e a reforma do muro da frente, que foi encaminhada para que a 5ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas (Crop) fizesse a vistoria no local.

Em relação à Félix da Cunha, a Seduc comentou que existem duas demandas: a reforma da rede elétrica, ainda não orçada, que está na 5ª Crop para revisão dos dados técnicos do projeto; e a reforma parcial do prédio principal, orçada em R$ 366 mil, que está em fase de processo licitatório.

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